Respirar História no cenário original dos fatos é inebriante e quase tudo que se vê e aprende passeando pelo Centro Histórico de Tiradentes é surpreendente. Mas há sempre o encontro com algo que nos envolve de forma mais contundente. No meu caso foi a IGREJA NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DOS PRETOS. Não só pela beleza suave de seus entalhes barrocos ou por sua construção envolta em um “ritual” de devoção e altruísmo, mas pelo conjunto da obra.
Como o nome já enuncia, trata-se de uma pequena igreja construída e freqüentada apenas por escravos, o que – contendo sua precipitação – não significa dizer humilde. Localizada na Rua Direita, foi construída entre 1708 e 1719 e é considerada a mais antiga da cidade.
Até aí tudo parece muito básico, historicamente falando, mas as circunstâncias da construção fazem toda a diferença. Entrando no templo, não se engane, tudo que reluz – sim – é ouro. Ouro “roubado” pelos escravos nos garimpos e trazido clandestinamente em cabelos e unhas para a Igreja.
Por essa razão, a porta principal nunca era aberta. O único acesso era uma pequena porta lateral que, uma vez aberta, não permitia que o ouro que ornava o altar fosse visto por quem passasse nas imediações. Reza a lenda que o único branco ciente de tudo era o Padre, “cúmplice” dos negros .
A riqueza inesperada da decoração guarda consigo uma série de pormenores contraditórios e intrigantes e, enriquecendo o enredo histórico, a presença de alguns símbolos alheios ao contexto católico narram silenciosamente uma história de segregação, fé e abnegação. A meia lua, no teto do altar, e a estrela negra, no teto da nave, fazem referência ao fato da Igreja ter sido construída à noite, único tempo livre que os escravos tinham para a construção.
A pintura no teto do altar mostra Nossa Senhora entregando o Rosário a São Francisco de Assis e São Domingos Gusmão:
E no teto da nave estão representados os 15 mistérios do Rosário:
Eu, que não tenho formação católica, para fazer esse post aprendi que o Rosário é uma oração católica – de devoção à Virgem Maria – composta, originalmente, por três terços, cada terço com cinco mistérios. Cada mistério recorda uma passagem importante da história da salvação, o que, por sua vez, está representado no teto da Igreja do Rosário (foto acima). Para tanto, entre outras fontes, consultei o Hélio, católico cheio dos protocolos “sacro-episcopais” (batismo, comunhão e crisma).
No lado esquerdo do altar, abaixo da imagem de Santo Elesbão – um Santo negro – encontrei essas casinhas, curiosas, mas o significado ninguém soube me explicar, apenas garantiram que fazem parte da construção original da igreja (será?).
E para aqueles que, como eu, até então nunca ouviram falar de Santo Elesbão, segue a “pesca” informativa:
Voltando à parte externa, note as fendas na parede da única torre e abaixo dos degraus, estrategicamente dipostas para dispersar o mau cheiro vindo dos corpos enterrados no interior da Igreja, já que a porta principal nunca seria aberta:
Também é possível subir até a galeria e apreciar a vista lá de cima:
Bem em frente a Igreja Nossa Senhora do Rosário, está a Antiga Cadeia de Tiradentes, erguida por volta de 1730.
Segundo o Carlos, nosso guia do charretour, a cor rosa, mantida quando de sua reconstrução após o incêndio que devastou o prédio em 1829, é uma homenagem a Maria Elvira Correia, primeira (não sei se única) mulher presa – por adultério – no antigo arraial.
– A Igreja está aberta à visitação das 09 às 17h. A entrada custa R$ 2,00. É permitido fotografar, desde que SEM flash. Já a Cadeia estava fechada para reforma e, para falar a verdade, estava com mais pinta de abandono que de revitalização.
Linda historia. Já inclui Tiradentes no meu roteiro.
Parabéns pelo blog.
Oi Vicki! Obrigada!
Tiradentes é realmente uma delícia. Não pode faltar no seu roteiro!
Estive em Ouro Preto e deixei escapar essa preciosidade! Mas ainda vou a Minas e Tiradentes está na minha listinhaaaaaa, rsrs.
Lindo post.
Bjs
Gina! Você vai amar! É um lugar muito especial. A História, a arquitetura, a comida, as pessoas… Tiradentes, como vc disse, é de fato uma preciosidade. Estou louca para voltar! kkkkkk 🙂
it was really excellent post! i am from aruba and i always like to read this blog.
Estive em Tiradentes, pela segunda vez, no ano passado (Julho/2013) e a cadeia já estava sendo revitalizada 😉 Ótimo post!
Oi, Lívia!
Obrigada pela informação.
Boa notícia 😉
Abraço,
Anna
Gostaria de comentar as casinhas abaixo da imagem de Santo Elesbão: As casas dos escravos livres eram pequeninas, contendo somente uma porta e uma janela. Pode-se ver exemplos preservados em todas as cidades históricas. Inclusive no Largo da Cruz em São João Del Rei há muitas delas. O fato de encontrá-las na Igreja do Rosário pode significar a distribuição dos bens que o Rei (Santo Elesbão) fez ao seu povo, antes de se recolher ao convento.
Obrigada, Ana Maria!
Valioso seu comentário.
Abraço,
Anna
Eu acabei de chegar de uma viagem a Minas Gerais e tive o prazer de fazer um belissimo passeio a Tiradentes. Quero voltar mais e mais vezes. Super recomendo. Historias e lugares incriveis.
Muita saudade de Tiradentes, Eliana.
Cidade linda, gente hospitaleira e comida maravilhosa.
Tudo de bom!